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Discernimento




“Cual es pues la nueva missión de Don Quijote hoy en este mundo? Clamar, clamar en el desierto. Pero el desieto oye, aunque no oigan los hombres y un dia se convertirá em selva sonora, y essa voz solitária que va posando em el desierto como semilla, dará un cedro gigantesco que son sus cien mil lenguas cantará um hosanna eterno ao Señor de la vida y de la muerte.”


Miguel de Unamuno – Del sentimento trágico de la vida.


Qual é o percentual de pessoas que não conseguem separar o que é intuição do que é racionalização do ego? 98%.

A repressão dos sentimentos, a lavagem cerebral, a separação da razão e da emoção, o quase absoluto controle do ego sobre as decisões, etc., impedem que se sinta o que é intuição.

Temos 40 mil neurônios no coração. É preciso escuta-los. Todos os neurônios estão interligados. É por isso que temos uma sensação visceral sobre algo. Quando temos medo podemos ter uma disfunção gastrointestinal. Quando estamos dirigindo numa estrada as vezes sabemos antes o que o motorista da frente fará. Segundos antes de fazê-lo. Isso não é só premonição, isso é intuição também.

Quando pensamos num novo negócio o que sentimos depois de coletar todos os dados e analisar todas as informações? Essa é a fase racional de análise. Então devemos parar e sentir. Separar o que é desejo do que é intuição. A questão aqui é separar o “tenho de vender”, “tenho de ganhar dinheiro”, “tenho de conseguir”, “preciso vender”, “preciso ganhar dinheiro”, do verdadeiro sentimento da intuição. Essas necessidades do ego parecem normais e boas. É a mesma coisa do tipo “agora vai”, “depois do carnaval anda”, “ano que vem melhora” e assim por diante. O tipo de expectativa irreal baseada apenas em desejos do ego. Os estudos de viabilidade econômica são feitos para evitar-se esse tipo de escolha pelo desejo, pelo ego, etc. 

Se pensarmos bem não é tão difícil separar uma coisa da outra. A pessoa quer porque quer uma coisa. Mesmo quando é irracional continuar com a tentativa de obter é colocado mais esforço numa coisa que já se mostrou inviável. Uma coisa é ter esperança e outra a intuição. A esperança é a última que morre! É lógico, o ego é o último a morrer! Enquanto houver ego haverá esperança. Quando a pessoa solta o ego (seus próprios interesses) é que pode deixar o universo trabalhar em paz. E os resultados aparecerão com certeza. Somente quando para de por pressão e ansiedade, que são coisas do ego. O ego deve estar à serviço da pessoa e não o contrário.

Vejamos. Na vida é impossível ter tudo. Temos de fazer escolhas. O tempo é finito numa vida. Priorizamos determinadas atividades em detrimento de outras. É normal. Como disse um ator: “eu precisava ter 5 vidas para fazer tudo que quero”. Todos nós sentimos isso. A felicidade é saber fazer essas escolhas. A felicidade é uma sensação que todos gostariam que fosse contínua, mas na maioria dos casos temos momentos de felicidade. Se esses momentos são repetidos mais vezes um dia chegaremos a ser felizes o tempo todo. No começo pode ser um momento aqui e outro ali. Persistindo, vamos pegando o jeito de fazer com que repitam. Existe a possibilidade de ser feliz o tempo todo. Sentir esse sentimento de fundo. Na superfície podemos ter momentos de tristeza por algo passageiro, mas no fundo somos felizes. É diferente do depressivo que é infeliz o tempo todo e pode ter momentos de felicidade ou alegria passageira. Todos somos capazes de perceber o que é o sentimento de fundo em nós mesmos. Quando cessa o ruído mental e a atividade frenética do dia a dia o que você sente? O que sente às 3 horas da manhã quando muitas vezes acorda?

O paradigma, o sistema de crenças, a lavagem cerebral, impede que tenhamos mais momentos felizes. Se passamos a acreditar em qualquer estória criada para definir um paradigma (e toda civilização está cheia dessas histórias), já estaremos programados para sentir de uma determinada forma. Leiam Joseph Campbell sobre o que os mitos podem fazer numa civilização. Essas histórias moldam o sistema de crenças.

Na Grécia antiga, em Elêusis, o tratamento terapêutico consistia também em ouvir estórias e assistir peças de teatro. Essas estórias curavam o paciente. O subconsciente assimila a moral da estória e programa a vida da pessoa para agir em função da moral da estória. Isso nunca mudou. As estórias programam nossa mente, nossa vida, nossos sentimentos, nossa razão. É por isso que é tão difícil separar o que é intuição do que é ego. O ego está condicionado por essas estórias. 


O percentual de pessoas infelizes neste planeta em função destas estórias é gigantesco. A infelicidade que sentem é em função apenas disto. Elas acham que devem agir de uma determinada forma em função de uma estória. Isso está trazendo infelicidade e a pessoa continua persistindo, por mais que a razão e a intuição mostrem que aquele comportamento só traz infelicidade. São casos e mais casos de sofrimento sem necessidade. Quando a pessoa tem a oportunidade de ouvir uma análise isenta sobre o porquê está sofrendo o encanto acaba num segundo. Como um estalar de dedos o sofrimento cessa e a pessoa pode ser feliz. Mas, isso porque uma força externa quebrou a hipnose. Porque na verdade é uma hipnose. Existem várias maneiras de hipnotizar. A mente acredita em qualquer coisa que se puser nela e a forma mais eficiente é contar uma estória. A forma de escapar de uma situação assim é deixar a razão analisar o fato, a estória, a circunstância, o entorno, etc. A análise racional acaba com a hipnose. Mas, normalmente é preciso uma força externa do tipo uma falência, uma doença, uma catástrofe, dívidas, etc. Não há necessidade de coisas tão radicais para mudar um paradigma. Se deixarmos a razão agir ou sentirmos a intuição veremos a situação com outros olhos. 

Estamos condicionados desde a infância a pensar e sentir de determinada forma. Quando o condicionamento é positivo somos felizes. É fácil perceber se o condicionamento é positivo. Ele permite alegria? Ele é bom para todos? Ele promove o crescimento, a felicidade, a realização? Ou impede tudo isso? O sentimento existe para facilitar o discernimento. Alegria ou tristeza, amor ou dor, crescimento ou depressão, prosperidade ou pobreza, etc. E tudo isso dependendo de uma estória.

Era uma vez...

Hélio Couto/ 2015



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